Palestra do especialista em transformação digital compõe o evento da CNC com alerta para mudanças profundas no comportamento da sociedade e dos negócios
Com estilo provocador e dinâmico, o especialista em inovação e transformação digital Walter Longo participou nesta terça-feira (8) do Conecta 2025, promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Sua palestra desafiou os participantes a repensar os modelos de gestão e a forma de se relacionar com a tecnologia. Longo falou do impacto da inteligência artificial, do big data e da efemeridade no mundo contemporâneo, tanto nos negócios quanto nas relações humanas, e defendeu que as empresas precisam ir além do digital e desenvolver uma “alma digital”.
“Não estamos mais em tempos de mudança. Estamos numa mudança de tempo”, destacou, ao apresentar o conceito de Tesarac, momento em que o novo não substitui totalmente o antigo, mas ambos coexistem, exigindo adaptação rápida e profunda.
Sofisticação e provocação
Walter Longo iniciou sua fala elogiando a organização do evento, classificando o Conecta 2025 como o mais sofisticado de que já participou. “Deus está nos detalhes. Este evento prova isso. Ética e estética caminham juntas aqui.” Em seguida, partiu para o tema da palestra, Inovação e Futuro, ressaltando que a verdadeira revolução não ocorre apenas com novas ferramentas, mas com novos comportamentos.
Para o palestrante, a obsessão até aqui foi com as chamadas “armas digitais”, como redes sociais, sites e funis de vendas. Mas o mundo pós-digital exige algo mais profundo, com o desenvolvimento de uma cultura digital real, novas estruturas de comando e colaboração dentro das organizações.
Alma digital e cooperação
Longo criticou o modelo hierárquico tradicional de comando nas empresas e defendeu um novo formato de liderança colaborativa, com menos rigidez e mais abertura para parcerias, inclusive com concorrentes. “Precisamos desenvolver uma alma digital nas nossas organizações”, afirmou.
Segundo ele, a transformação digital não pode se restringir a ferramentas e tecnologias. É preciso rever estruturas de poder, adotar modelos matriciais e abraçar a coopetição, estratégia que combina elementos de competição e cooperação.
Individualização e dados
O especialista também destacou que o big data e a gestão de dados serão a base das relações no futuro. Isso porque, segundo ele, a sociedade foi mimada e individualizada pelo mundo digital. Cada consumidor quer ser tratado de forma única, com produtos personalizados, serviços sob medida e atenção individualizada.
Longo usou exemplos para mostrar como a individualização se tornou norma, como o cardápio familiar adaptado às restrições alimentares e a compra on-line de camisas no tamanho e cor exatos, passando por ajustes personalizados em bancos de carros e menus de travesseiros em hotéis.
“Hoje, nós podemos conhecer profundamente nossos clientes a um custo acessível. E não basta saber quem ele é. Precisamos saber o que está vivendo. As oportunidades estão nos eventos da vida: promoções, demissões, adoção de um pet.”
Big data cruzado com dados demográficos, comportamentais, psicográficos e de feedback gera uma compreensão mais profunda que qualquer pesquisa tradicional. “Os algoritmos conhecem você mais do que sua mãe”, ressaltou.
A efemeridade como regra
A efemeridade, a rapidez com que as tendências surgem e desaparecem, foi outro tema de destaque da apresentação. Longo lembrou a moda das paletas mexicanas, dos food trucks e de outras tendências passageiras para ilustrar a dificuldade das empresas em se adaptar a um mundo onde tudo muda o tempo todo.
“Se antes a gente precisava andar para não ficar no lugar, agora a gente precisa correr para não sair do lugar.”
Segundo ele, o conceito de gratificação instantânea dominou a sociedade. As pessoas querem tudo imediatamente. E isso influencia desde a forma como consomem música e notícias até o relacionamento com empresas e marcas. O consumidor não quer mais esperar cinco segundos para baixar um site. “A espera virou intolerável.”
Inteligência artificial
Ao falar sobre a inteligência artificial (IA), Longo fez um alerta: a IA não é o futuro, é o presente invisível. “Já está entre nós e muda tudo de novo.” Ele apresentou várias aplicações práticas de IA no cotidiano empresarial, como assistentes que gravam reuniões, geram relatórios, montam agendas, elaboram planos de negócios, criam conteúdos audiovisuais e monitoram mudanças na vida de clientes e empresas.
“A IA me devolveu 3 horas e 45 minutos por dia. O que você vai fazer com esse tempo é uma escolha pessoal.”
Longo comparou a adesão à IA com a decisão de entrar numa academia. “É um movimento individual de quem deseja evitar a atrofia cognitiva. Cada um precisa decidir o que quer fazer melhor e o que quer fazer menos e usar as ferramentas certas para isso.”
Mudança de era, não apenas de tecnologia
Para Walter Longo, todos os fenômenos observados, da efemeridade ao big data, da IA à individualização, indicam que não vivemos apenas uma era de transformações tecnológicas, mas uma verdadeira mudança de era. A atenção, por exemplo, se tornou o bem mais escasso. E a sociedade sofre com distrações constantes que impactam o desempenho cognitivo e a profundidade do pensamento.
“Sem abstração, não há insight. Sem insight, não há decisões criativas.”
Ele defendeu a importância das pausas, da divagação, do tempo livre para pensar. E apontou a necessidade de novo foco na educação, personalizado e individualizado, com apoio da IA como tutor cognitivo.
No encerramento, Walter Longo ressaltou que, em um mundo onde a tecnologia é commodity, o diferencial competitivo estará nos valores humanos, como empatia, intuição, compaixão, emoção.
“Em terra de robô, quem tem coração é rei.”
Ele argumentou que saímos das hard skills (habilidades técnicas) para as soft skills (habilidades comportamentais e socioambientais) e agora estamos entrando na era das “heart skills”, as habilidades do coração.
A intuição, por exemplo, precisa ser valorizada como forma de raciocínio. As mulheres, segundo ele, estão mais conectadas com essa dimensão por natureza.
Durante a palestra, Longo destacou o valor dos encontros presenciais, como o Conecta 2025. “A conversa no cafezinho gera mais insight do que uma palestra estruturada. Somos animais gregários.”
Ao final, Walter Longo frisou que:
- Precisamos ir além das armas digitais;
- O big data e a gestão de dados vão liderar as relações;
- A efemeridade é o novo cenário em que vamos atuar;
- A IA já está entre nós e muda tudo de novo.
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